Sobretaxa
de 50% atinge quase 36% das exportações e Planalto avalia que pressão sobre STF
pode se intensificar sob comando de Trump.
O governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia como altamente improvável
qualquer recuo dos Estados Unidos em relação à sobretaxa de 50% imposta às
exportações brasileiras. Segundo o g1, a administração brasileira também
considera possível a imposição de novas sanções por parte da Casa Branca a
integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), intensificando a pressão
política internacional.
Apesar de
esforços diplomáticos coordenados pelos ministros Mauro Vieira (Relações
Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda) e pelo vice-presidente e ministro da
Indústria, Geraldo Alckmin, o Planalto entende que não há, neste momento,
margem para negociação com o presidente norte-americano Donald Trump.
Tarifa
afeta quase 36% das exportações brasileiras - A sobretaxa de 50% sobre produtos
brasileiros passou a valer na quarta-feira (6) e afeta diretamente cerca de
35,9% das exportações destinadas aos Estados Unidos, de acordo com estimativa
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). A lista de
exceções inclui itens como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos
e fertilizantes. Por outro lado, itens de alto valor agregado, como carne e
café, estão entre os mais prejudicados pela nova política tarifária de Trump.
Desde o
anúncio da primeira tarifa, de 10%, em abril, o governo brasileiro tem buscado
diálogo com representantes norte-americanos. No entanto, fontes próximas ao
presidente Lula afirmam que os interlocutores enviados por Trump — como o
secretário de Estado, Marco Rubio, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick —
não possuem autonomia suficiente para avançar em concessões.
Contatos
diplomáticos sem efeito prático - Na tentativa de construir pontes, Mauro
Vieira manteve reuniões com Rubio, enquanto Alckmin conversou pessoalmente com
Howard Lutnick e, mais recentemente, com o encarregado de negócios da Embaixada
dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar. Fernando Haddad tem videoconferência
marcada com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, para o próximo dia 13.
Embora o
governo reconheça os diálogos como “avanços diplomáticos”, a leitura
predominante no Planalto é que qualquer mudança no tarifaço depende de um gesto
político direto de Trump — como ocorreu em negociações recentes com Japão e
União Europeia. Para isso, o presidente norte-americano exigiria uma
contrapartida pública que justificasse o recuo.
Entre
essas exigências, uma em especial tem sido classificada como inaceitável por
Brasília: o fim dos processos judiciais contra Jair Bolsonaro (PL), que
atualmente cumpre prisão domiciliar após ser tornado réu por tentativa de golpe
de Estado.
Risco de
desgaste diplomático com STF no alvo - Além do impasse comercial, cresce no
Planalto a preocupação com uma escalada de tensões diplomáticas envolvendo o
Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, o governo norte-americano
sancionou o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky, que permite
punições a estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou
corrupção em larga escala.
Além de
Moraes, outros sete ministros do STF tiveram seus vistos revogados pelos
Estados Unidos. Uma nova ofensiva pode estar em curso, sobretudo após a
decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro. A embaixada americana, inclusive,
publicou uma nota interpretada no Brasil como ameaça a aliados de Moraes.
Essa
conjuntura aumenta a cautela em torno de um possível telefonema entre Lula e
Trump. O presidente brasileiro teme que uma conversa direta, em vez de abrir
caminho para a negociação, agrave ainda mais o conflito, especialmente se Trump
insistir em críticas ao Supremo e for confrontado por Lula.
O chefe do Executivo brasileiro tem reafirmado que o país está aberto ao diálogo, mas não aceitará pressões inaceitáveis.