As negociações de bastidores para a
formação da nova cúpula da Câmara dos Deputados incluem um embate por uma das
vagas entre o União Brasil, o terceiro maior partido da Casa, e o Podemos,
sigla que tem apenas 14 deputados.
Em 1º de fevereiro, a Câmara se reúne para
a provável eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência, em
substituição a Arthur Lira (PP-AL). Além desse posto, serão renovados outros
seis da chamada Mesa —duas vice-presidências e quatro secretarias.
Com o Republicanos na presidência, a
primeira-vice ficará com o oposicionista PL, o maior partido da Câmara, com 93
das 513 cadeiras, na figura do atual líder da bancada, Altineu Côrtes (RJ).
A segunda-vice pode ficar com o PP de Lira
(quarta maior bancada, com 50 deputados), sendo que o mais cotado até o momento
é o deputado Lula da Fonte (PE), de 24 anos, filho do também deputado Eduardo
da Fonte (PP-PE).
A Primeira-Secretaria, que é uma espécie de
“prefeitura da Câmara”, responsável pela maior parte das funções
administrativas da Casa, será do PT de Lula, que tem o segundo maior contingente
de deputados, 67. Ocupará o cargo Carlos Veras (PE).
As outras três secretarias (segunda,
terceira e quarta) deveriam ser ocupadas, caso fosse seguido o critério do
tamanho das bancadas, por União Brasil (59 deputados), PSD e MDB, esses dois últimos
com 44 cadeiras cada um.
Ocorre que pleiteia uma dessas vagas o
Podemos, partido que reúne bem menos deputados, apenas 14, mas que conta com o
trunfo de ter aderido à candidatura de Hugo Motta na primeira hora.
O União Brasil tentou até o último momento
manter a candidatura à presidência da Câmara do líder da bancada, Elmar
Nascimento (BA), que só desistiu em novembro.
“Fomos um dos primeiros a apoiar o Hugo,
teremos a 3ª ou a 4ª secretaria da Mesa. Acordo com Hugo, Arthur [Lira] e
Republicanos”, disse a presidente do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP). A
Folha procurou Elmar, mas não conseguiu contato.
Integrantes do União Brasil dizem descartar
a hipótese de que o partido fique de fora da Mesa e que, inclusive, pleiteiam
um posto acima das secretarias, a segunda vice-presidência, que é atualmente
ocupada pelo PL, mas que teria sido prometida ao PP. Nesse cenário, segundo
relatos, Elmar seria escolhido para ocupar a segunda vice.
Parlamentares do União Brasil disseram que
o partido vai exigir participação na Mesa independentemente de acordos firmados
por Hugo Motta ou Lira. A reportagem procurou os dois parlamentares, mas não
houve manifestação.
No Republicanos, a avaliação é de que,
apesar da promessa ao Podemos, será difícil excluir o União Brasil da Mesa.
Uma das saídas é a negociação de outras
funções de destaque, como a presidência da CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça), a principal da Casa.
Um aliado de Hugo Motta afirma que ainda
não há uma conclusão sobre essas negociações, mas diz que, por mais que
desagrade o Podemos, é improvável que os maiores partidos fiquem de fora da
Mesa.
Na avaliação desse político, o maior
impasse a ser resolvido pelo deputado do Republicanos é a relatoria do
Orçamento da União, que teria sido prometida ao MDB no ano passado. Isso porque
o União Brasil também mira essa vaga e, segundo integrantes do partido, teriam
o compromisso do deputado em relação a isso.
Além de angariar prestígio político, os
ocupantes de cargos na Mesa são responsáveis por determinados temas
administrativos —como a gestão dos imóveis funcionais ou a emissão de
passaportes diplomáticos— e ganham direito a mais cargos e verbas.
Texto – Ranier Bragon e
Victória Azevedo
Fonte – Folha Press – DF