Segundo comunicado da diplomacia
brasileira, o conteúdo das publicações feitas pelo Departamento de Estado e a
Embaixada dos Estados Unidos configura "clara ingerência"
O Ministério das Relações Exteriores
convocou, na sexta-feira (8/8), o encarregado de negócios dos Estados Unidos no
Brasil, Gabriel Escobar, para expressar “profunda indignação” diante de
mensagens publicadas pelo Departamento de Estado e pela embaixada americana nas
redes sociais.
Escobar foi recebido às 9h pelo embaixador
Flavio Goldman, que chefia interinamente a Secretaria de Europa e América do
Norte do Itamaraty. Segundo comunicado da diplomacia brasileira, o conteúdo das
publicações configura “clara ingerência” em assuntos internos e traz “ameaças
inaceitáveis” a autoridades do país.
O episódio ocorre dois dias após a prisão
domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na quarta-feira (6), os perfis
oficiais do Departamento de Estado e da embaixada dos EUA acusaram o ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “flagrantes
violações de direitos humanos”, afirmando que ele seria “o principal arquiteto
da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores”.
A publicação também citou que tais ações
teriam levado à imposição de sanções contra Moraes pela chamada Lei Magnitsky,
determinadas pelo ex-presidente Donald Trump. Em tom considerado hostil por
autoridades brasileiras, o texto advertia que “aliados de Moraes no Judiciário
e em outras esferas” não deveriam apoiar suas decisões, acrescentando que “a
situação está sendo monitorada de perto”.
No STF, a mensagem foi interpretada como um
alerta de possível extensão de sanções a outros ministros. Para o Itamaraty, a
manifestação pública norte-americana rompe protocolos diplomáticos e interfere
na soberania brasileira.
Gabriel Escobar está à frente da
representação diplomática em Brasília desde janeiro, quando a embaixadora
Elizabeth Bagley, indicada pelo então presidente Joe Biden, deixou o posto.
Desde que reassumiu a Casa Branca, Donald Trump nomeou embaixadores para 61 países ou organismos internacionais, mas ainda não indicou um novo representante para o Brasil, que segue sob comando interino.